“A dispersão não lhes tira a unidade, nem a inquietude a constância.” Assim Machado de Assis descreveu o vento. Mário Quintana aproveitou e aplicou-a aos poetas.
Dispersão e inquietude são características geralmente pejorativas. Principalmente, em dias que se espera concentração e serenidade. Não concentração opcional, concentração apenas naquilo que é importante. Não serenidade atingida, serenidade apenas necessária e involuntária.
Espera-se da poesia que se limite ao registro de sentimentos, espera-se do vento que se limite à brisa fresca.
Esquecemos do poder de novas palavras, ou ainda, do poder de velhas palavras em novos lugares. Mas novos lugares às vezes são inatingíveis com brisas frescas, são inatingíveis com tanta concentração, tanta serenidade.
Dispersos e inquietos, encontraremos as novas palavras e os novos lugares. E novas palavras em novos lugares, por mais desacostumados que estejamos, são NOVAS IDÉIAS.
Quem nos dá o direito de ter novas idéias? Nem nós mesmos, quando nos forçamos à autocrítica por estarmos “sonhando demais”. Quando insistimos em tê-las, somos duramente inibidos pela mecanização e imposição das idéias antigas.
Mas de que adiantas as idéias, sem homens e mulheres para pô-las em prática? De que adiantam a dispersão e a inquietude, sem a unidade e a constância?
Exploremos a constância de nossa unidade, aproveitando novos ventos para conhecer e por em práticas as novas palavras. As novas idéias.
Henrique Sater – 03/02/2010
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