Duas costuras de mosaicos de existência
Ali repousavam lado a lado.
Sob estrutura vil, a primeira parecia regojizar-se
através de seu busto perfeitamente lapidado.
A música de Schubert acalmava-lhe os espíritos;
o óleo ainda fresco transparecia cores cuidadosamente escolhidas.
O grande caixão comportava seu pequenino corpo
Que os poucos dias não permitiram que se desenvolvesse
O grande cerimonial não comportava o pequenino espaço
Que os muitos músicos não permitiam que ninguém passasse.
Num minúsculo canto, a segunda parecia à vontade
através de suas rugas assimetricamente esculpidas.
O ruído daqueles instrumentos era deveras incômodo
um gigantesco quadro parecia um carnaval abstrato demais
O pequenino caixão mal comportava seu grande corpo
Que duros anos permitiram que perecesse.
O cerimonial ainda estava por existir no espaço
Que só três ônibus até lá permitiam que algum familiar chegasse.
Subitamente, um discurso se pronunciou.
“A vida é curta, a arte é longa” – dizia, um senhor bem vestido.
Olhando profundamente nos olhos dos presentes.
Prantos melancólicos e desesperados.
Do pequeno canto, o outro mosaico.
Sentia a vida dos presentes.
Procurando a arte que não sente.
Preso na memória dos por vir
Presos pelas amarras do presente.
Henrique Sater – 14/10/2010
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