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Das novas idéias

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maio 272012
 

“A dispersão não lhes tira a unidade, nem a inquietude a constância.” Assim Machado de Assis descreveu o vento. Mário Quintana aproveitou e aplicou-a aos poetas.

Dispersão e inquietude são características geralmente pejorativas. Principalmente, em dias que se espera concentração e serenidade. Não concentração opcional, concentração apenas naquilo que é importante. Não serenidade atingida, serenidade apenas necessária e involuntária.

Espera-se da poesia que se limite ao registro de sentimentos, espera-se do vento que se limite à brisa fresca.

Esquecemos do poder de novas palavras, ou ainda, do poder de velhas palavras em novos lugares. Mas novos lugares às vezes são inatingíveis com brisas frescas, são inatingíveis com tanta concentração, tanta serenidade.

Dispersos e inquietos, encontraremos as novas palavras e os novos lugares. E novas palavras em novos lugares, por mais desacostumados que estejamos, são NOVAS IDÉIAS.
Quem nos dá o direito de ter novas idéias? Nem nós mesmos, quando nos forçamos à autocrítica por estarmos “sonhando demais”. Quando insistimos em tê-las, somos duramente inibidos pela mecanização e imposição das idéias antigas.

Mas de que adiantas as idéias, sem homens e mulheres para pô-las em prática? De que adiantam a dispersão e a inquietude, sem a unidade e a constância?

Exploremos a constância de nossa unidade, aproveitando novos ventos para conhecer e por em práticas as novas palavras. As novas idéias.

Henrique Sater – 03/02/2010

A quem já pôde amar

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maio 272012
 

Desfruta enquanto ama, homem
pois de pão e água sobrevivem
mas no teto do amor não dormem
são tristes: todos que acham que vivem.

Desfruta enquanto podes, tolo
já que de matéria se faz teu corpo, teu intestino
mas de mais se faz teu miolo
e é dele todo teu destino.

Quem já pôde amar que o diga
mas fale sob juramento
que não há quem alguém infinitamente siga
senão aquele que ama, seja ou não por sacramento.

Ama, tolo homem, a todo momento
enquanto tal sorte é te dada por ora
pois eterno é o teu sentimento
mas por quanto tempo serás quem és agora?

Henrique Sater – 30/12/2010

Pneumonia

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maio 272012
 

Opaco do lado do coração
como um caroço amarrado
sertão com febre, o corpo fraco
cutuca o peito até que quebre.

O ar me tira, respiro a chama
A mira vã que a cura espera
O sol que queima, a boca seca
seca e derrama, a mente pira.

A sina torpe, me chama à cama
Tira meu sono, me dá a lã
A luz escura perturba o sonho
me alucina, idéia sã.

Carnificina: o peito inflama
embebe o sangue, se dissemina
briga de humores, sem ter um dono
me mata um pouco, mas tira as dores.

Henrique Sater – 23/05/2012

Sono

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maio 272012
 

 

(dedicado à Thais)

Assume a forma de minhas pálpebras
e nelas pesa cada piscar
se cada vez que cerro os olhos
já não garanto o próximo olhar
enterro o mar do pensamento
e adentro o chão que voa e some
me perco e encontro sala sem centro
me escondo e ouço: ouvido aberto
vozes que insistem na luz sumida
cabeça pesa, parece ferro
quero acordar, estou bem perto
encerro o sonho, recorro à fala
sentido quero mas não vislumbro
e cerro os olhos sem novo olhar.
Já não garanto.
Já não garanto.
Já não…
Já…

Henrique Sater – 24/05/2012

Apnéia*

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maio 272012
 

Tento parar um segundo
sentir que resisto sem ar
no fundo já sei que um misto
de mim no mundo se esvai
e insisto a cada suspiro
profundo ou não, que já sai.

Tento ficar neste mundo
sorrir mesmo sem paz
imundo, sigo e insisto
no ouvido um coro de ais
um misto de dor e absurdo.

Um segundo foi pouco demais.

Henrique Sater – 16/5/2012


*Apneia designa a suspensão voluntária ou involuntária da respiração, ou a interrupção da comunicação do ar atmosférico