é lucidez desatino

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mar 052014
 
“É lucidez, desatino,
De ler no próprio destino
sem poder mudar-lhe a sorte…”
Maldição – Maria Bethânia

vovó devia ter avisado

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fev 222014
 

CIMG0556

 

VOVÓ DEVIA TER AVISADO

tarde demais, tarde demais, a promoter que jogava ovos
podres nos travecos putas e camelôs das calçadas
de Copacabana descobriu que o carro zero
os contatos descolados o duplex quitado
e a convivência com celebridades não
impediriam o almoço dos vermes
no cemitério do caju

Ademir Assunção

deus me salve da idade madura

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fev 162014
 

armadura

ARMADURA EM CARNE MOLE

 

deus me salve da idade madura,

e me sirva o que passa, a brisa

que perdura, gesto escrito com

brasa, pintura além da moldura,

deus me salve, não me serve, o

amarelo que logo apodrece, a boca

coberta de musgo, não é isso

que almejo, os cravos de Cristo, o fraco

pulso do amortecido, persigo

o que persiste, no ontem,

no quando, no não-sei-onde, um

texto-percevejo, traça que rói

a couraça, torre de onde avisto

e percebo, o não-visto que sempre

provo, quanto menos prosa

trovo, a língua que travo

trinca, recolho vida em verso, e

transmuto treva em rosa

Ademir Assunção

do livro A voz do ventríloquo (2012)

ponto

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fev 062014
 

minto que
sei ser mito

penso no que
nunca peço

mostro que
sei ser monstro

parto sem
nenhum pranto

mato sem
sujar meu manto

morro com
nada e pronto

ponto.

Henrique Sater – 04/02/2014

nem vem

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fev 062014
 

Hoje não tem nada disso, de ser feliz por aí
hoje eu não quero comicio, aqui
dentro de mim não existo, sinto que fui e parti
dos meus compromissos já me esqueci
hoje não tem nem perdão
nem pai, nem mãe, nem irmão
nada de ser guardião dos meus
hoje não tem solução e nem problemas também
nem rico, nem pobretão, nem vem
hoje não tem violão, não toco samba cançao
não quero nem discussão, nem vem.
Sérgio Sampaio

mudança

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jan 292014
 

mudanca

 

dois anos pra tentar se ajeitar
dois dias pra correr e desmontar
dos panos que eu botei pra secar
e as pias que eu ajudei a lavar.

das simples rimas que terminam em “ar”
das longas prosas que tiraram meu ar
das obras primas que eu não pude inventar
das belas rosas que eu esqueci de plantar.

dos canos que eu tentei consertar
das quinas que eu cansei de esbarrar
dois anos que eu não pude esperar
duas sinas que aprenderam a se amar.

Henrique Sater – 29 de janeiro de 2014

o que é que eu fiz de mal

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jan 292014
 

queeufiz

fico perguntando que que eu fiz de mal
choro parecendo juízo final
dívidas são tantas, milhares de broncas
prestação de contas, everybody now.

o que mais to lendo é nota fiscal
choro, vou sofrendo dor profissional
grito “de que adianta grana a contagotas?”
itamar é contra excesso de sal
excesso de sal.

se tô assistindo jornal nacional
choro soluçando, grito no plural
tô compondo mantras sobre minhas plantas
sobre chutas santas, sobre o escambau.

sigo remoendo pela capital
choro muito vendo assalto em sinal
coração aguenta, mas nem sou atleta
isso é uma afronta, isso é amoral
isso é amoral.

durmo desvairando noite de hospital
choro reclamando feito terminal
pago minhas contas, ninguém me desconta
nada me encanta nem o carnaval
não tô entendendo quantos são os paus pra canoa
eu choro remando contra o vendaval

engulo pimenta
não poupo a garganta
esse pó não assenta
o que é que eu fiz de mal?

fico perguntando: que que eu fiz de mal?

itamar assumpção e alzira espíndola

menino

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jan 282014
 

 

mancha

Surge do destino
no começo, parece um menino
muito quieto, franzino.

Prudente, sem alarde
Não machuca, não arde
Cresce toda manhã, não diminui de tarde.

Até que a ciência o desvenda
Ganha o fato, larga a lenda
É dito como encomenda

A conversa com o doutor
Dizem: precisa de amor
Diagnóstico terminal: tumor.

7/12/2009 – Henrique Sater

todos nós temos nossos problemas

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jan 252014
 

sinal

67-1556

todos nós
temos nossos problemas

alguns maiores
alguns menores, ele disse

noite negra negro dia
um príncipe negro e sua voz:

anúncios presságios quem sabe
negras profecias

sem amor sem dor sem temor
também não espero um sinal

hóstia partida
tribo desfeita (sinal no vento)

apenas danço e vejo
danço e vejo

ping-pong patético
nenhum abraço nesse estio (sinal dos tempos)

um telefone um número s.o.s.
um minúsculo vazio

entre um lado e o outro
do mesmo fio

Ademir Assunção
Poema do livro LSD Nô (1994)

http://www.youtube.com/watch?v=2Ey7ljJf_Cs