um diamante gerado pela combustão, como rescaldo final de incêndio.

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jan 292015
 

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“Minha alegria permanece eternidades soterrada
e só sobe para a superfície
através dos tubos de filtros alquímicos
e não da causalidade natural.
Ela é filha bastarda do desvio e da desgraça,
minha alegria:
um diamante gerado pela combustão,
como rescaldo final de incêndio.”

minha alegria – waly salomão

mixtape 32 – 24/12/14

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dez 242014
 

capa (arte: Kiko Dinucci)

As time goes by Chet Baker Love Song 1 1986 Jazz 01 – As time goes by.mp3
Lupiciniana Fabiana Cozza Fabiana Cozza 2 2011 Other 02 – Lupiciniana.mp3
Duas De Cinco Criolo Convoque Seu Buda 3 03 – Duas De Cinco.mp3
Abra o olho Gilberto Gil Gilberto Gil ao vivo 4 1974 MPB 04 – Abra o olho.mp3
Como um Raio Romulo Fróes Barulho Feio 5 2014 05 – Como um Raio.mp3
Four Women Nina Simone The Best of Nina Simone 6 1964 Jazz 06 – Four Women.mp3
Vozes Invisíveis Graveola e o Lixo Polifônico 2 e meio 7 2014 MPB 07 – Vozes Invisíveis.mp3
Itinerário Rodrigo Maranhão Itinerário 8 2014 MPB 08 – Itinerário.mp3
Anjo Exterminado Jards Macalé e Adriana Calcanhotto youtube – Filme Jards 9 2013 MPB 09 – Anjo Exterminado.mp3
Mini-Mistério Gal Costa Legal 10 2003 Latin 10 – Mini-Mistério.mp3

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tudo sentir total é chave de ouro do meu jogo

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dez 242014
 

lince

quem fala que sou esquisito hermético
é porque não dou sopa estou sempre elétrico
nada que se aproxima nada me é estranho
fulano sicrano beltrano
seja pedra seja planta seja bicho seja humano
quando quero saber o que ocorre à minha volta
ligo a tomada abro a janela escancaro a porta
experimento invento tudo nunca jamais me iludo
quero crer no que vem por aí beco escuro
me iludo passado presente futuro
urro arre i urro
viro balanço reviro na palma da mão o dado
futuro presente passado
tudo sentir total é chave de ouro do meu jogo
é fósforo que acende o fogo da minha mais alta razão
e na seqüência de diferentes naipes
quem fala de mim tem paixão

Waly Salomão – Olho de Lince

Quizá mi única noción de patria sea esta urgencia de decir Nosotros

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dez 212014
 

benedettiCuando resido en este país que no sueña
cuando vivo en esta ciudad sin párpados
donde sin embargo mi mujer me entiende
y ha quedado mi infancia y envejecen mis padres
y llamo a mis amigos de vereda a vereda
y puedo ver los árboles desde mi ventana
olvidados y torpes a las tres de la tarde
siento que algo me cerca y me oprime
como si una sombra espesa y decisiva
descendiera sobre mí y sobre nosotros
para encubrir a ese alguien que siempre afloja
el viejo detonador de la esperanza.

Cuando vivo en esta ciudad sin lágrimas
que se ha vuelto egoísta de puro generosa
que ha perdido su ánimo sin haberlo gastado
pienso que al fin ha llegado el momento
de decir adiós a algunas presunciones
de alejarse tal vez y hablar otros idiomas
donde la indiferencia sea una palabra obsena.
(…)

Quizá mi única noción de patria
sea esta urgencia de decir Nosotros
quizá mi única noción de patria
sea este regreso al propio desconcierto.

Mario Benedetti – Noción de Patria

Prometi nunca render-me ao verso fácil.

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dez 072014
 

 

sorrisoA RAZÃO DO POEMA

Prometi nunca render-me
ao verso fácil.
À poesia-nuvem
fluida substância sem contorno.
Não fuja do meu sangue o verso vago,
alheio ao barro amargo do Tempo.

Eu quis o gume,
a aresta,
o vinco.

Recusei o lírio
das feiras semanais das flores mortas.

Eu quero um poema-dor,
arrancado aos pedaços
da carne da vida.
Aqui está ele
sangrando meus dedos
no cimento da cela.

A poesia não marca hora.
Hoje, como há trinta anos,
está nos jornais.
Foi pisada,
cuspida,
torturada:
contra todas as formas de morte
floresce.

Eu a encontrei num dia de chuva,
durante o combate.
Trazia um vento de Liberdade na boca
e a metralhadora nas mãos.

Ensinou-me o fogo
e a palavra.
Lavrou-me nos pés o roteiro
dos caminhos que percorrerei:

nenhuma dor visite a cada de meu irmão
sem se fazer lágrima nos meus olhos.
Nenhuma investida dos cavaleiros da morte
será silenciada.
E se vier a tortura, ou a morte,
a marcha para o sol reuniá
os pedaços dispersos do meu corpo…
E o canto do Povo sobre a cidade aberta
não me surpreenderá adormecido.

Pedro Tierra – A palavra contra o muro

mixtape 31 – 27/08/14

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ago 272014
 

capa

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Babaô Miloquê Russo Passapusso Goma-Laca – Afrobrasilidades em 78 RPM 1 2014 Afrojazz 01. Babaô Miloquê.mp3
Cê tá com tempo? Anelis Assumpção Anelis e os Amigos Imaginários 2 2014 World 02. Cê tá com tempo.mp3
Só Morto (Burning Night) Jards Macalé Jards 2011 3 2011 MPB 03. Só Morto (Burning Night).mp3
Nem Assim Sérgio Sampaio Sinceramente 4 1982 MPB 04. Nem Assim.mp3
Luzia Itamar Assumpção e Isca de Polícia Beleléu Leléu Eu 5 1980 MPB 05. Luzia.mp3
Na Boca do Beco Djavan A Voz e o Violão 6 1976 MPB 06. Na Boca do Beco.mp3
Abundantemente Morte Luiz Melodia Pérola Negra 7 1973 MPB 07. Abundantemente Morte.mp3
Mosca Na Sopa Raul Seixas Krig-Ha, Bandolo! 8 1973 Rock And Roll 08. Mosca Na Sopa.mp3
Ego Rock Janis Joplin In Concert 9 1972 Rock & Roll 09. Ego Rock.mp3
Quero Sambar Meu Bem Tom Zé Grande Liquidação 10 1968 MPB 10. Quero Sambar Meu Bem.mp3

 

 

 

amar sem jejum de sentimento.

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ago 252014
 

http://daniellazupo.com/Jornalista/wp-content/uploads/2004/09/Adelia-Prado.jpg

Me disseram outro dia: “Será que você não dá conta de escrever sem falar em Deus, não? Gosto mais quando você escreve sem falar em Deus…” Isso me magoou, me deixou com um talho no peito, os olhos postos em cinza e melancolia, primeiro por causa da coisa mesma, segui porque quem assim me falou eu amo de dar a vida. Eu acho que o homem é religioso como é bípede. Tem Deus no começo e no fim. No meio fica a gente esperneando. Se espernear de acordo, isto é, com sinceridade, esbarra NELE, não tem conversa. Tem gente que grita por gritar, porque acha bonito. Comigo aconteceu, não por mérito meu, está se vendo, que esbarrei cedo. Mais esperneio, mais esbarro e fico puxada, agulha no ímã. Como que eu posso falar de outra coisa? Sofro muito apesar da cara risonha, porque ELE sempre é muito exigidor e fica pedindo coisas difíceis. Tinha muito a tentação de ser pagã. Imaginava que pagão não pagava dízimos, que era só ficar aí, curtindo, lambendo o mel da vida, dançando, saindo no meio do baile, com seu par, procurando um lugar discreto no jardim, pra cochichar no ouvido aquelas coisas boas, segurando na mão da gente, com maciez e quentura. Isso é paraíso, não é? Mas não tem paraíso aqui pra ninguém não. Deus não pega na minha mão. Falar no meu ouvido Ele fala, mas é assim: “Vai, vende tudo que tem, reparte com os pobres e me segue” Não me beija o rosto e ainda me pede a outra face para o bofetão. Mesmo quando me pede em casamento, faz é esponsal místico. Tenho que inaugurar pra mim um jeito novo. Eu falo muito, eu sei disso, mas é só porque ainda não achei minha forma. Quando isto acontecer, vou ficar contida e poderosa, cheia de força como uma nuvem preta expedidora de raio. Santo é assim, não é? Você toca nele e sai uma força que te põe trêmulo e branco. Quero o que se deve querer já que, conforme o mandamento, somos todos chamados à perfeição: é por isso, é por estrito senso de dever que eu quero o mais custoso. Gosto de coisa boa. Me incomoda pensar que pode ser o capeta que lá me confundindo, enchendo a minha cabeça com esta precisão de distinguir, em vez de me dar folga pra viver sem complicação que, pra mim, é o seguinte: comer sem fazer jejum. Amar sem fazer jejum. Ter licença de abrir o coração pra quem eu quiser. Abrir o coração, bem explicado: amar sem jejum de sentimento.

Adélia Prado – Solte os cachorros