Por ora

 Poemas  Comentários desativados em Por ora
jun 102012
 

 

Cada não dado por hora
é só o calor do vão do agora
é o não sei falado por ora
travestido de contraposição que agoura
mas muito de nada se vê ali fora
e aqui dentro onde mora
quero manter-me como tora
queimar-me na chama da aurora
beijar-lhe onde sei que adora
porque dali algum tempo do agora
um segundo, um minuto, uma hora
sem a raiva que me agoura
o aval te darei por ora
onde sei que razão não mora
onde sabia nada haver aqui fora
dura e inquebrável feito tora
quente e ofuscante como aurora
vem a nova verdade
vem a nova idéia
que sem você não teria
e agora não te tenho, queria
porém só me sobra
a idéia nova
colada na aurora
que nem em mim, nem em você
nem nela mesmo
mora
morre por ora
morre por agora
mas certamente não é ela
que agora
chora.

Henrique Sater – 9/6/2012

Diarréia

 Poemas  Comentários desativados em Diarréia
jun 062012
 

Cago-me e nem mais sinto
Purgam-me e eu consinto.
Só peço que não seja mais com a ciência.

Que eu possa sentir o esterco
E não mais os íons dos slides

Não se incomodam que tanto churume
já não me deixe nem ouvir.

Contanto que meus olhos estejam abertos
e meu jaleco sem manchas de merda.

Henrique Sater – 04/09/2011

Fluoxetina

 Poemas  Comentários desativados em Fluoxetina
jun 042012
 

Os olhos transbordam
e o horizonte distante
parece tão cinza
que os olhos verdes
transbordam distantes.

O mar que era verde
transborda de cinzas
e os olhos distantes
parecem tão cinzas
tão sem horizonte.

Os olhos já cinzas
e o mar no horizonte
ficam tão verdes
que o sorriso constante
nos olhos transbordam
a próxima dose
e o horizonte distante.

Henrique Sater – 14/9/2011

Vida Relógio

 Poemas  Comentários desativados em Vida Relógio
maio 282012
 

Vida que escorre pelas mãos
chega ao ponteiro das horas
imiscui-se até o marco dos minutos
tece o registro frágil dos segundos
e debruça-se sobre cada estalada.

Até que zera e dispara seu alarme.

Tentam trocar-lhe a bateria
e disparar-lhe cada badalada.

Já não parece mais nada do que era
porém insistem em girar-lhe cada volta
dar-lhe das sessenta o minuto
e suspirar-lhe mais sessenta em uma hora.

Quando, já escorrido quase tudo,
foi-se o alarme, o alerta e a música
marca apenas segundo por segundo.

Henrique Sater (05 de janeiro de 2012)

Pouco

 Poemas  Comentários desativados em Pouco
maio 272012
 

Doze horas por dia sou médico
oito horas por dia sou sono
quatro horas que sobram sou pouco
pouco que discute mas não aplica
pouco que aplica e só estuda
pouco que estuda o que discute
mas pouco sente que algo muda.

Metade do dia que examino
meu âmago corrompe o olhar intruso
os óculos do normal escondo, mas uso
hoje doutor, outrora menino
se quebro a lente, então me entrego
não mais menino, adulto cego.

Doze horas por dia sou míope
oito horas por dia sou mudo
quatro horas que sobram sou louco
entre livros de outro tempo
e óculos deste mundo
empilhados no mesmo criado mudo.

Henrique Sater – 05/03/2012

Cautela

 Poemas  Comentários desativados em Cautela
maio 272012
 
(Millor)

Se não te cuidares o corpo
Cuida teu espírito torto
Que teu corpo jaz perfeito

Se não te cuidares o peito
Cuida teu olho absurdo
Que teu peito tomba morto
Diante de tudo

Se não te cuidares, cuidado
Com as armadilhas do ar
Qualquer solto som pode dar tudo errado

Paulo Cesar Pinheiro

A quem já pôde amar

 Poemas  Comentários desativados em A quem já pôde amar
maio 272012
 

Desfruta enquanto ama, homem
pois de pão e água sobrevivem
mas no teto do amor não dormem
são tristes: todos que acham que vivem.

Desfruta enquanto podes, tolo
já que de matéria se faz teu corpo, teu intestino
mas de mais se faz teu miolo
e é dele todo teu destino.

Quem já pôde amar que o diga
mas fale sob juramento
que não há quem alguém infinitamente siga
senão aquele que ama, seja ou não por sacramento.

Ama, tolo homem, a todo momento
enquanto tal sorte é te dada por ora
pois eterno é o teu sentimento
mas por quanto tempo serás quem és agora?

Henrique Sater – 30/12/2010

Pneumonia

 Poemas  Comentários desativados em Pneumonia
maio 272012
 

Opaco do lado do coração
como um caroço amarrado
sertão com febre, o corpo fraco
cutuca o peito até que quebre.

O ar me tira, respiro a chama
A mira vã que a cura espera
O sol que queima, a boca seca
seca e derrama, a mente pira.

A sina torpe, me chama à cama
Tira meu sono, me dá a lã
A luz escura perturba o sonho
me alucina, idéia sã.

Carnificina: o peito inflama
embebe o sangue, se dissemina
briga de humores, sem ter um dono
me mata um pouco, mas tira as dores.

Henrique Sater – 23/05/2012

Sono

 Poemas  Comentários desativados em Sono
maio 272012
 

 

(dedicado à Thais)

Assume a forma de minhas pálpebras
e nelas pesa cada piscar
se cada vez que cerro os olhos
já não garanto o próximo olhar
enterro o mar do pensamento
e adentro o chão que voa e some
me perco e encontro sala sem centro
me escondo e ouço: ouvido aberto
vozes que insistem na luz sumida
cabeça pesa, parece ferro
quero acordar, estou bem perto
encerro o sonho, recorro à fala
sentido quero mas não vislumbro
e cerro os olhos sem novo olhar.
Já não garanto.
Já não garanto.
Já não…
Já…

Henrique Sater – 24/05/2012