caço o que não é quieto, mas tampouco murmúrio

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ago 032014
 

12092738706_f227f4a606_zsilêncio que satura meus pensamentos
não cessa, nem com notas nem com gritos
silêncio que apressa meus desejos
é traça, que rói cada um de meus ossos.

cala-te e vá embora
mas que não venha em seu lugar
o som parco, pobre, pútrido.

entre você, vazio, que me fustiga
e o diálogo morno, moribundo
sucumbo-me aos seus minutos infinitos.

caço o que não é quieto, mas
tampouco murmúrio
o que não é parado, mas
nem por isso mecânico.

o que não é opaco, muito
menos límpido,
lúcido, lírico.

Henrique Sater – julho/2014

É preciso estar silêncio pra eu não ficar aflito / Mas em mim existe um grito / Que eu não posso mais calar

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jul 152014
 

É preciso estar escuro pra eu poder dormir em paz
Mas em mim há uma luz que não sei como apagar
Eu canto incontido cortando o escuro
Sexto sentido saltando o muro

É preciso estar silêncio pra eu não ficar aflito
Mas em mim existe um grito
Que eu não posso mais calar
Mundo mandala mudando o impuro
Tempo tempero tecendo o futuro

Lua cheia na varanda
Rio da mente deslizar
Ai estrelas me respondam
Como eu posso descansar

Sexto Sentido – Itamar Assumpção

Por que a poesia de rabo preso sem poder se operar e, operada, polimórfica e perversa, não pode travestir-se?

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jul 082014
 

Exterior – Waly Salomão

Por que a poesia tem que se confinar?
às paredes de dentro da vulva do poema?
Por que proibir à poesia
estourar os limites do grelo
da greta
da gruta
e se espraiar além da grade
do sol nascido quadrado?

Por que a poesia tem que se sustentar
de pé, cartesiana milícia enfileirada,
obediente filha da pauta?
Por que a poesia não pode ficar de quatro
e se agachar e se esgueirar
para gozar
– carpe diem! –
fora da zona da página?

Por que a poesia de rabo preso
sem poder se operar
e, operada,
polimórfica e perversa,
não pode travestir-se
com os clitóris e balangandãs da lira?

Eu queria ser demente na varanda de meu pai mijar nas flores, sorrir da lua como um louco

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jul 062014
 

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(Carlos Carah – ilustração)

Anima – José Carlos Capinam

Existe uma menina onde meu coração é doce

Voz marítma selvagem eu guardo

o hálito da vítima o branco vestido e o traço

do rosto dramático, dela

do outro

e do meu um pedaço. Continue reading »

meu ar de dominador dizia que eu ia ser seu dono

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jun 192014
 

Meu ar de dominador dizia que eu ia ser seu dono

E nessa eu dancei! Hoje no universo

Nada que brilha cega mais que seu nome

Fiquei mudo ao lhe conhecer, o que vi foi demais, vazou

Por toda selva do meu ser, nada ficou intacto

Quem não tem pra quem se dar, o dia é igual à noite

Tempo parado no ar, há dias, calor, insônia, oh! noite

Quem ama vive a sonhar de dia, voar é do homem

Vida foi feita pra estar em dia, com a fome, com a fome, com a fome

Minha vida por inteiro eu lhe dou

Minha vida por inteiro eu lhe dou –

Djavan

http://grooveshark.com/s/Boa+Noite/3noVZJ?src=5

há uns olhos além da frágil realidade

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maio 032014
 

Texto

Afonso Henriques Neto – disponível aqui

Oh espina clavada en el hueso
hasta que se oxiden los planetas
FEDERICO GARCÍA LORCA

O texto, escura escama, pesadelo de eternidade,
máscara densa do universo vomitando.
O texto, mas não a energia que o pensou,
interrogando a simultaneidade absoluta.
Há uma esperança nas ruas, nas pedras, no acaso
de tudo, uma esperança, uma forma suspensa
entre o aparente e a essência, entre o que vemos
e a substância, uma esperança, uma certeza talvez
de que o rio não se dissolva no mar, de que
o ínfimo, o precário, a voz, a sombra,
o estalar das carnes na explosão
não se dispersem no todo, impensável medusa da inexistência.
Há uma luz qualquer sonhando integração, o suposto
destino dos ventos, das energias globais, a suposta
sabedoria com que o homem fecundou a crosta
envenenada do planeta, há uma luz qualquer
ensaiando águas pensadas no eterno esvair-se,
abstrato expansionário, há uns olhos além
da frágil realidade, da terrível matança, da
cruel carnificina entre seres pestilentos aquém
da fronteira do sonho, um texto além do texto,
uma esperança talvez, enquanto somos e nos cumprimos,
enquanto somos e nos oxidamos, enquanto
somos e prosseguimos.

“um poeta não se faz com versos”

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abr 192014
 

o poeta se faz do sabor
de se saber poeta
de não ter direito a outro ofício
de se achar de real utilidade pública
no cumprimento de sua missão sobre a terra
escrevendo tocando criando
o que pesa é não se achar louco
patético quixote inútil
como quem fala sozinho
como quem luta sozinho
o que pesa é ter que criar
não a palavra
mas a estrutura onde ela ressoe
não o versinho lindo
mas o jeitinho dele ser lido por você
não o panfleto
mas o jeito de distribuir
quanto a você meu camarada
que à noite verseja pra de dia
cumprir seu dever como água parada
fica aqui uma sugestão:
– se engaveta junto com os seus sonetos
porque muito sangue vai rolar e não
fica bem você manchar tão imaculadas páginas.

Ricardo de Carvalho Duarte, ou Chacal

ando chorando à toa

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mar 272014
 

ando chorando à toa
não sei o que tem me dado
um canto meu peito entoa
cheio de dor e de enfado.

ando gritando e ecoa
não sinto ninguém do meu lado
um tanto eu quero que doa
sentir que tem algo errado.

ando parando a canoa
brigo com quem tem remado
imóvel o mar me enjoa
remando fico desnorteado.

ando cansando à toa
ficando de pé ou sentado
a voz triste, mal soa,
só não posso ficar calado.

Henrique Sater – 19/3/14

não sou eu.

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mar 122014
 

Amante da Algazarra
Waly Salomão

Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto.
É ela !!!
Todo mundo sabe, sou uma lisa flor de pessoa,
Sem espinho de roseira nem áspera lixa de folha de figueira.

Esta amante da balbúrdia cavalga encostada ao meu sóbrio ombro
Vixe!!!
Enquanto caminho a pé, pedestre — peregrino atônito até a morte.
Sem motivo nenhum de pranto ou angústia rouca ou desalento:
Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto
E se apossou do estojo de minha figura e dela expeliu o estofo.

Quem corre desabrida
Sem ceder a concha do ouvido
A ninguém que dela discorde
É esta
Selvagem sombra acavalada que faz versos como quem morde.